SBG Núcleo – MG Indica: Diamante de Sangue

Texto por Ana Clara Oliveira Magalhães

Diamante de Sangue, protagonizado por Leonardo DiCaprio e Djimon Hounsou, é um filme que tem como pano de fundo a Guerra Civil na Serra Leoa durante a década de 90. Danny Archer é um mercenário que contrabandeava diamantes de sangue, utilizados para comprar e financiar armas para a guerra. O destino fez com que o seu caminho cruzasse com o de Salomon, um pescador negro que foi levado pelo grupo rebelde Força Revolucionária Unida (FRU) para trabalhar nos campos de diamante. Acontece que Salomon encontrou um diamante rosa raríssimo e muito valioso, que poderia salvar sua vida e a de sua família, mas Danny também quer sair da violência em que vive e fará de tudo para conseguir a pedra.

O filme fala, ao abordar como a corrupção desencadeou o conflito, sobre as condições desumanas em que os africanos viviam durante esse período conturbado. As coisas só melhoraram em 2002, quando o presidente Ahmad Tejan Kabbah declarou o fim da Guerra Civil. Edward Zwick ganhou inúmeros elogios pela veracidade de suas cenas, que esbanjam ação e tensão – principalmente nas mais violentas. O longa também afirma a qualidade de atuação DiCaprio, que vivia o melhor momento de sua carreira quando o longa foi lançado.

Apesar de a trama ser fictícia, ganha um tom bastante documental quando retrata a população, a cultura local e a atmosfera da guerra. Inclusive, houve um burburinho imenso sobre a preocupação dos comerciantes de joias quando o filme foi lançado. Isso porque, mesmo com o Processo de Kimberley, muitos contrabandistas conseguiam burlar o sistema de certificação de origem das pedras preciosas (BERTOZZI, 2007). Em 2015, ainda se ouvia muito falar sobre a violação dos direitos humanos nas minas dos países africanos, o que torna, de forma ou de outra, Diamante de Sangue um filme atemporal e importantíssimo.

O filme, apesar de ter um contexto social muito forte, fala muito sobre o diamante em si. A África é um dos países percursores quando se trata do assunto, porque a fonte primária do diamante foi encontrada pela primeira vez lá, em 1871, na África do Sul (SVISERO, 1992). O kimberlito ficou conhecido como a rocha matriz do diamante por mais de um século até a descoberta dos lamproítos diamantíferos na Austrália, em 1982. Os diamantes se apresentam na forma de xenocristais nesse tipo de rocha, bem como nos lamproítos, que também são veículos de transporte dessas pedras preciosas até a crosta.

Segundo Svisero (2006), os estudos sobre o diamante e os kimberlitos tiveram início em 1973, a partir da primeira conferência internacional de kimberlitos realizada na Cidadedo Cabo (África do Sul). Hoje, as fontes primárias de diamantes são kimberlito, orangeíto e lamproíto, rochas vulcânicas. Os diamantes também podem ser encontrados em depósitos secundários, que são de origem aluvionar, costeira, marinha ou eólica (CHAVES & CHAMBEL, 2003).

O continente Africano é, atualmente, um dos maiores produtores de diamantes do mundo: em 2020, praticamente 50% de toda a produção da gema veio da África. Por causa disso, até hoje, a população africana sofre com as guerras promovidas pelo controle de pedras preciosas e reservas de metais (PRIETO, 2017), que quase sempre resultam em trabalho escravo. Quanto a isso, Diamante de Sangue é bastante didático e informativo.

Porém, para além das questões sociais, é possível extrair discussões interessantes sobre o diamante em si. O filme respira diamante, que é o mineral mais conhecido, apesar de raro, que existe. Também é considerada uma das gemas mais caras, muito provavelmente por causa da sua baixa ocorrência e, consequentemente, da sua extração que era intensa, principalmente no Brasil do século XVIII (BRANCO, 2008). Inclusive, o papel do personagem Salomon, que infelizmente é escravo, faz muita referência aos garimpeiros, que apesar de não possuírem conhecimento teórico, conhecem a prática – sem eles, os diamantes não seriam encontrados tão facilmente.

Filme: Diamante de Sangue
Direção: Edward Zwick
Produção: Marshall Herskovitz, Graham King, Paula Weinstein e Edward Zwick
Ano: 2006
País: Estados Unidos e Alemanha

Referências:

BERTOZZI, T. Diamantes de sangue são reais. 2007. Disponível em < https://www.otempo.com.br/mundo/diamantes-de-sangue-sao-reais-1.235938>. Acesso em 07 de dezembro de 2020.

BRANCO, P. de M. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2008. 608 p.

CHAVES, M.L .; CHAMBEL, L. Diamante: a Pedra, a Gema, a Lenda. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2003. 232 p.

GAZETA DO POVO.  Serra Leoa teme que “Diamante de Sangue” prejudique sua imagem. 2006. Disponível em < https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/serra-leoa-teme-que-diamante-de-sangue-prejudique-sua-imagem-ab2bi5ubxd4d67lyf3qgxx3ym/>. Acesso em 07 de dezembro de 2020.

PRIETO, J. C. Mineração na África se alimenta de sangue. 2017. Disponível em < https://anovademocracia.com.br/no-195/7380-mineracao-na-africa-se-alimenta-de-sangue>. Acesso em 08 de dezembro de 2020.

SVISERO, D. P. As múltiplas facetas do diamante. Revista USP, n.71, p. 52-69, setembro/novembro 2006.

SVISERO, D. P. Gênese do diamante: uma revisão dos conhecimentos atuais. Revista USP, n. 12 (1992): II Jornadas Científicas, 1992.